Os ritos da Semana Santa em Valenzano representam um dos momentos mais intensos do ano litúrgico. As celebrações começam no Domingo de Ramos com a tradicional bênção dos ramos de oliveira nas igrejas da cidade. A Quinta-feira Santa é dedicada à visita aos "Sepolcri", os altares da reposição ricamente decorados, em uma peregrinação devocional que se estende até tarde da noite, seguindo a antiga tradição de visitar pelo menos sete igrejas. O momento mais espetacular acontece durante a Sexta-feira Santa, com o "Raduno", quando as ruas do centro histórico acolhem uma das maiores procissões da Puglia: nada menos que 50 grupos escultóricos, levados em procissão pelas confrarias locais vestidas com trajes tradicionais, representando de forma comovente a Passione di Cristo. Ainda na Sexta-feira Santa, segue-se a Processione dell’Addolorata, que parte da Chiesa di San Rocco.

Sexta-feira Santa

Raduno dei 48 Sacri Misteri

Na manhã da Sexta-feira Santa, Valenzano recebe o tradicional Raduno dei Sacri Misteri, um evento que envolve 48 grupos escultóricos, símbolo de uma intensa e sincera participação popular. Ao contrário de outras localidades, os Misteri de Valenzano não pertencem às confrarias ou às igrejas, mas sim a particulares. Essa característica única confere à procissão um significado profundamente pessoal e comunitário.

-Portadores: Os Misteri são carregados por amigos e parentes dos proprietários, em número variável entre 8 e 16 para cada grupo escultórico. Alguns carregam a coroa de espinhos e se autoflagelam em sinal de penitência.

-Acompanhantes: Meninas vestidas de preto carregam a quadrata, um véu que cobre todo o corpo, enquanto meninos vestidos como Jesus Cristo ou meninas como Addolorata precedem alguns Misteri.

Desde 1675, a procissão continua a crescer e se renovar, sem jamais sofrer interrupções, tornando-se uma das manifestações mais vivas e significativas da religiosidade popular da Puglia.

-Data: 18 de abril de 2025

-Horário: 8:00

-Local: Corso A. Moro

Sexta-feira Santa

Processione dei Misteri

Às 10h30, a procissão dos 48 Misteri percorre o Corso A. Moro e as principais ruas do centro da cidade. A narrativa da Passione se desenrola por meio da alternância entre estátuas corais e individuais, oferecendo momentos de reflexão e comoção. A Madonna é a figura mais representada, junto a Cristo, conferindo à procissão uma forte carga emocional e espiritual.

-Data: 18 de abril de 2025

-Horário: 10:30

-Local: Corso A. Moro

Sexta-feira Santa

O pároco entrega o crucifixo nas mãos de Maria Addolorata

Às 15h00, na Chiesa di San Rocco, ocorre um momento simbólico e emocionante: o pároco entrega o Crucifixo nas mãos da estátua de Maria Addolorata. Este rito representa o desfecho espiritual da Passione di Cristo e o profundo sofrimento da Virgem.

-Data: 18 de abril de 2025

-Horário: 15:00

-Local: Chiesa di San Rocco

Sexta-feira da Paixão / 11 de abril de 2025

• VALENZANO / Via Crucis interparoquial com a imagem de dell’Addolorata / Pelas ruas da cidade / 19h30

Sexta-feira Santa / 18 de abril de 2025

• VALENZANO / Raduno dei Sacri Misteri / Corso A. Moro / 8h00

• VALENZANO / Processione dei Misteri / Corso A. Moro / 10h30

• VALENZANO / O pároco entrega o crucifixo nas mãos de Maria Addolorata / Chiesa San Rocco / 15h00

AS CONFRARIAS: UMA TRADIÇÃO QUE PERDURA TAMBÉM EM VALENZANO

De acordo com o local de residência, a atividade profissional e os laços eclesiásticos, as confrarias diferenciam-se pela devoção particular a um santo ou a um culto específico, ao qual se inspiram, se confiam e do qual tomam o nome. Essa devoção está frequentemente associada a igrejas, capelas e altares próprios—às vezes enriquecidos com esplêndidas obras de arte—, assim como vestimentas distintas, insígnias, objetos sagrados e até mesmo orações, textos literários e composições musicais próprias. Valenzano segue essa mesma tradição. Em sua história religiosa, contam-se oito confrarias. A primeira, em ordem cronológica, é a do SS. Corpo di Cristo, ou do SS. Sacramento, fundada logo após o Concilio di Trento (1563). Em 1578, foi estabelecida a Confraternita di Maria SS. del Rosario, seguida pela Confraternita del Purgatorio por volta de 1665. No início do século XVIII, foram fundadas a Confraternita di San Rocco e a Confraternita dell’Immacolata Concezione, seguidas pela Confraternita di Maria SS. Addolorata em 1888 e pela Confraternita dello Scapolare o della Madonna del Carmine e Sant’Antonio em 1908. No final do século XX, restava apenas um pequeno grupo de irmãs da Confraternita di Maria SS. Addolorata. No entanto, com o início do terceiro milênio, as tradições recuperaram força com a reativação da Confraternita di San Rocco e da Confraternita di Maria SS. Addolorata.

CONFRATERNITA DI MARIA SS. ADDOLORATA

O fechamento do Monastero delle Benedettine Cistercensi di Madonna di Loreto em 1866 levou, dois anos depois, à criação da Pia Unione di Confratelli e Consorelle sob o título de Maria Santissima Addolorata. Sua sede foi estabelecida no antigo mosteiro, cedido pelo município sob certas condições, conforme estipulado nas deliberações de 17 de janeiro, 20 de abril e 30 de junho de 1895, devidamente aprovadas. Em 1897, a confraria contava com cinquenta e oito confrades e setenta consorelle. Era responsável pela manutenção da Chiesa di Santa Maria di Loreto, pelos cultos ali realizados e pelos ritos associados à Settimana Santa. Em honra à sua padroeira, Maria Santissima Addolorata, festividades eram realizadas em setembro e novembro, com funções religiosas, uma missa solene e uma procissão pela cidade, acompanhada por uma banda musical. Desde a década de 1960, a confraria viu o número de membros diminuir progressivamente. No entanto, nos últimos anos, a devoção parece ter renascido e continua, como em suas origens, estreitamente ligada aos ritos da Settimana Santa.

CONFRATERNITA DI SAN ROCCO

A devoção a San Rocco está presente em Valenzano desde 1543, quando foi construída uma capela dedicada a ele junto às novas muralhas da cidade, perto da Porta Nuova, no caminho para Bari. Durante a epidemia de peste de 1656, Valenzano fez um voto oficial a San Rocco, agradecendo por ter sido poupada do pior surto da doença que atingiu a região. A devoção era tão forte que, no início do século XVIII, foi fundada a Confraternita di San Rocco, que recebeu aprovação oficial por decreto real em 1780. Provavelmente no mesmo período, com o envolvimento da confraria e de algumas figuras locais importantes, chegou a Valenzano uma preciosa relíquia do santo—um fragmento de osso de seu antebraço. Esta relíquia foi colocada em um relicário de prata em forma de braço e exposta solenemente para veneração durante as festividades. A Festa di San Rocco era celebrada com grande solenidade: a igreja era completamente decorada, a cidade se enfeitava com luzes e ornamentos nas casas e ruas, e eram realizadas três procissões multitudinárias, com a presença de numerosos peregrinos, confrades e até participantes a cavalo. Durante os anos da reconstrução pós-guerra, apesar do fervor devocional, a festa também se tornou um evento importante para os emigrantes que voltavam à sua terra natal para as férias de verão. Para muitos moradores de baixa renda, representava uma alternativa acessível ao Ferragosto, com bandas musicais e grandes banquetes de carne assada. Hoje, em um contexto econômico e social diferente, busca-se resgatar os valores religiosos, históricos e antropológicos dessa celebração. A confraria está ativamente envolvida nesse renascimento, com um número crescente de membros e maior participação nos ritos religiosos e nas tradições associadas a San Rocco.

Durante a Quaresma, predominam os pratos à base de legumes e leguminosas locais. A Sexta-feira Santa é caracterizada por pratos leves, tendo como protagonista o bacalhau, preparado segundo antigas receitas. A tradição doceira da Páscoa se expressa através das "scarcelle", decoradas com ovos cozidos, símbolo de renascimento, e da típica "frittua", uma focaccia feita com massa de batata, azeite de oliva local e tomates frescos, que representa a essência da mais autêntica culinária da Apúlia.